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ENERGIA LIMPA TEM POTENCIAL PARA SUPRIR ALTA DA DEMANDA

April 2, 2018

Folha de S. Paulo

A demanda por eletricidade no país crescerá quase 200% em 30 anos, segundo estimativa do Ministério de Minas e Energia. E o Brasil, sobretudo o Nordeste, tem potencial para suprir parte do consumo com energia solar e eólica.

“É preciso, porém, haver interesse, investimento em pesquisas e legislação adequada”, afirma Alana Kelly Campos, coordenadora do curso de engenharia de energia da Ufersa (Universidade Federal Rural do Semi-Árido).

A produção de energia a partir do vento tem hoje maior capacidade instalada em comparação à solar, por ter entrado na matriz energética brasileira mais cedo (2009).

“Houve dias, no ano passado, em que a geração eólica chegou a abastecer 60% do consumo deenergia do Nordeste”, afirma Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica).

A tendência é que continue a crescer e se afirme como uma energia limpa e de menor custo. “No último leilão, em dezembro de 2017, o preço da energia eólica ficou menor do que o da produzida pela usina de Belo Monte.”

Graças a usinas de rápida implantação, a previsão da Abeeólica para 2020 é que a energia eólica represente 12% da matriz brasileira e, até 2030, chegue até a 25%.

“Estamos entre os dez países com maior parque gerador eólico e entre os cinco que mais investem nessa fonte anualmente”, diz Gannoum.

ROYALTIES DOS VENTOS

Especialistas temem, no entanto, que uma possível cobrança de royalties dos ventos desacelere essa expansão. Essa é a proposta de emenda à Constituição (PEC97/2015), de autoria do deputado federal Heráclito Fortes (PSB-PI).

Heráclito argumenta que o vento é um recurso que pertence a todo o povo brasileiro e, assim, seria justo que os benefícios econômicos da atividade fossem compartilhados. Ele afirmou que defenderá também a cobrança de royalties da energia solar.

Para a Abeeólica, em vez de benefícios, a cobrança dos royalties representaria um custo adicional —que seria repassado para a tarifa nos leilões e, consequentemente, para o consumidor final. Isso diminuiria a competitividade da eólica e beneficiaria expansão por outras fontes.

“O Brasil estaria na contramão de mundo, que busca incentivar e até dar subsídios para fontes renováveis”, diz a presidente da associação.

ENERGIA SOLAR

O primeiro leilão do governo para contratação de energia de fonte solar foi feito somente em 2013. Fruto dessa oportunidade, o projeto Fontes Solar, da empresa italiana Enel no estado de Pernambuco, começou a produzir energia em agosto de 2015.

A empresa hoje é a líder na geração de energia solar, e tem também parques eólicos na Bahia, no Piauí, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Em dezembro de 2017, conquistou projetos para instalação de novas usinas solares e eólicas no Nordeste.

“O Nordeste e o Brasil como um todo têm condições de expandir a participação das fontes renováveis”, diz Luigi Parisi, responsável pela Enel Green Power Brasil, braço que cuida da geração de energias solar e eólica.

“Pela quantidade de irradiação solar, o rendimento em produção de energia na região seria o dobro do de uma usina exatamente igual instalada na Alemanha”, afirma Rodrigo Sauaia, presidente da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica). Os alemães são hoje líderes mundiais em geração de energia solar.

Para Sauaia, o Brasil só não se destaca mais no cenário mundial por causa do atraso na liderança governamental. “A fonte solar já mostrou também que tem preços competitivos. Houve redução de preço dos equipamentos —por volta de 75% em dez anos— e aumento da eficiência deles”, afirma.

Em nome do setor, ele pede que o governo dê continuidade à contratação de energia de fonte solar.

“Queremos a inclusão no leilão A-6, previsto para o segundo semestre. Recomendamos ainda uma atualização do Plano Decenal de Energia, para dar sinais ao mercado de que é seguro investir naenergia solar em médio e longo prazo.”

A italiana Enel também pede aperfeiçoamento regulatório. “A extensão dos contratos de geração dos atuais 20 anos para 25 anos propiciaria uma maior competitividade”, afirma Parisi.

DESAFIOS E IMPACTOS

As usinas geradoras de energia solar e eólica no Nordeste ficam em regiões afastadas dos grandes centros. “Esses locais são de difícil acesso, exigindo uma logística maior da empresa, que muitas vezes precisa refazer os acessos, reforçar pontes e estradas para garantir o andamento das obras”, afirma o representante da Enel.

O sistema de transmissão atual também é visto como um gargalo. “Há grande número de projetos e poucas linhas de escoamento da energia. A Enel acredita que os leilões de transmissão que foram realizados contribuirão para que essa situação seja resolvida no médio prazo.”

Do ponto de vista ambiental, tanto a eólica como a solar são energias consideradas limpas, que não geram resíduos. “Mas toda interferência humana gera algum impacto ambiental. Mesmo as hidrelétricas provocam impacto”, diz Alana Campos, professora da Ufersa.

As torres das plantas eólicas, embora possam ser consideradas feias, não afetam atividades agropecuárias. “Elas ocupam 3% dos terrenos e podem conviver com a pecuária e a agricultura. A altura, de 150 metros, não atrapalha as rotas de pássaros, que voam mais baixo.”

Do ponto de vista econômico, o presidente da Abeeólica defende que os geradores instalados promovem desenvolvimento.

“Estimamos que mais de 4.000 famílias recebam valores pelo arrendamento da terra, que somam mais de R$ 10 milhões mensais. É um benefício para as famílias. Elas acabam consumindo mais, o que beneficia a região”, diz.

O Nordeste tem ainda condições privilegiadas para a sinergia entre as duas fontes. Enquanto a geração de energia solar ocorre durante o dia, a eólica acontece mais no fim da tarde e à noite. “Com cada uma produzindo em um momento, cria-se um sistema seguro e menos vezes será preciso acionar termelétricas, que poluem e são mais caras”, diz Sauaia, da ABSOLAR.

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